Com uma lista extensa de trabalhos na TV e no cinema, David Cardoso completa 75 anos, sendo 55 deles dedicados à carreira de diretor e ator. A responsabilidade da sala que leva o nome do artista passou recentemente para o MIS (Museu da Imagem e do Som) e está sendo finalizado o processo de conferência de todo o material.
Marinete Pinheiro, coordenadora do MIS, além de estar supervisionando o serviço de catalogação dos documentos, reportagens, fotos e todos os artigos do acervo da Sala David Cardoso, é uma das maiores admiradoras do profissional. Segundo ela, o sul-mato-grossense natural de Maracaju, cidade a 158 quilômetros de Campo Grande, hoje vive em Terenos, a 32 quilômetros, e tem um escritório na avenida Afonso Pena, na Capital.
A importância de David Cardoso para o cinema do Estado vai além de sua imensa filmografia. O conteúdo é historicamente significativo. “O filme Caingangue, a pontaria do diabo, de 1976, se passa em Maracaju e tem imagens da cidade numa época em que era uma rua de terra com poucas casas. Apesar de ser ficção, é um registro histórico”, descreve Marinete.
Além disso, ele foi um dos que deslizavam entre as rígidas normas da censura durante a ditadura militar e conseguiu publicar diversos filmes, inclusive com a temática da pornochanchada, da qual se tornou referência.
“Ele produzia na ditadura militar. Ele burlava a censura”, explica Marinete enfatizando que em 1977 ele levou 1.018.727 pessoas para as salas com o filme Dezenove Mulheres e um Homem.
A coordenadora do MIS ainda ressalta que naquela época, justamente por conta da censura, a produção cinematográfica era muito difícil e, segundo ela, é um dos fatos que contribuiu para a existência da pornochanchada. “Não podia falar nada. Ele teve muitos filmes censurados”, pontua. “E mesmo assim conseguiu continuar produzindo”, completa.
“David Cardoso tem uma importância histórica, não só por produzir, dirigir, roteirizar e atuar, mas por estar inserido tanto tempo na história cinema. É uma arte muito difícil. Sou fã, não só pelo trabalho dele, mas pela pessoa que ele é”, afirma.
Sala David Cardoso - O espaço físico dedicado ao artista somente não pode ser chamado de museu, pois representa uma pessoa ainda viva, mas conta com diversos itens que mostram sua trajetória. Há diversos cartazes, fotos, recortes de jornais e revistas, documentos que retratam seu trabalho.
David Cardoso atuou em 53 obras entre filmes, novelas e séries, produziu 25 trabalhos e dirigiu outros 15, entre curtas e longas. Uma das atrações é a linha do tempo com todos os filmes em que o artista atuou e dirigiu. Além disso, cartazes impressos das obras, publicações originais, claquetes, cadeira e figurinos de David Cardoso fazem parte do mostruário. Anualmente, o MIS também faz a projeção de filmes e contam com um público significativo de fãs.
No início de 2018 a responsabilidade da sala passou do Arquivo Público para o MIS, mas o local continua no Memorial da Cultura. “Estamos tomando pé de todo material que veio.
Parte está na exposição das pessoas e parte no arquivo. O material está em processo de conferência”, esclarece Marinete. A sala é aberta ao público e as visitas são monitoradas.
David Cardoso deixou a pornochanchada e, conforme opina Marinete, “virou cult”, sendo convidado para festivais e palestras em universidades. Em 2015 dirigiu seu último filme, no qual também atua, intitulado “Sem Defesa” que trata da redução da maioridade. Apesar da despedida do cinema, David pretende continuar fazendo participações, mas como afirmou em entrevista ao jornal Extra, dirigir e atuar, nunca mais.
Midiamax