Weslley Henrique Gonçalves Tavares de 21 anos que foi encontrado na noite de ontem (02) em estado de putrefação em um lote no Assentamento Eldorado já foi destaque na mídia estadual. Isso porque um mudo foi preso no lugar dele.
A Justiça às vezes erra. Quando erra, aquele que sofreu com o erro pede a correção. Não é o caso de João (nome fictício). Mudo, analfabeto e sem conhecimento de libras, ele ficou preso no lugar de outra pessoa, que fala normalmente, e não conseguiu pedir por justiça. Por quatro meses e 20 dias, ficou no Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande identificado como Weslley Henrique Gonçalves Tavares, 20 anos, condenado por roubo e foragido da justiça. Após meses pagando por um crime que não cometeu, o homem de aproximadamente 30 anos teve a liberdade em maio do ano passado.
Em março de 2016, Weslley foi preso pela primeira vez, por roubar um celular usando uma arma de brinquedo. Pelo crime, foi condenado a cinco anos e quatro meses no semiaberto, mas no dia 28 de outubro do mesmo ano, fugiu do pátio do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira durante o banho de sol. Com isso, teve a prisão em regime fechado decretada.
Em janeiro deste ano, o mandado foi cumprido. É aí que João, nome ficctício para um personagem da vida real que ainda não foi identificado, vira Wesley por um erro ainda a ser desvendendado. As circunstâncias da prisão não foram ainda esclarecidas. As fotos dos dois sinalizam que a confusão possa ter relação com a semelhança física entre os dois.
Preso, João é enviado ao Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho”, a Máxima de Campo Grande, no dia 5 de janeiro. Lá, tinha bom comportamento, e diante das dificuldades de comunicação, nunca conseguiu se fazer claro. Além da mudez, há a suspeita de que ele tenha algum tipo de deficiência intelectual.
Os meses passaram e no dia 21 de maio, o interno foi escoltado ao fórum da Capital para prestar depoimento sobre o envolvimento do verdadeiro criminoso em um outro roubo, cometido em 2016. Na sala de audiência, o advogado de defesa do réu "verdadeiro" olhou para João e declarou de cara que aquele não era o seu cliente.
Foi a própria defesa de Weslley que procurou a 2ª Vara de Execução Penal - vara em que o cliente havia sido condenado pelo roubo - e comunicou a situação. Imediatamente o juiz pediu um novo exame de identificação. O resultado saiu e durante nova audiência, na qual o verdadeiro culpado pelo crime deveria explicar o porque fugiu.
“Deixamos a audiência dele por último e ligamos para o Instituto de Identificação pedindo urgência no resultado, tinha que sair o mais rápido possível”, detalhou o juiz Mário José Esbalqueiro Júnior, titular da 2ª Vara e responsável pelo caso.
O laudo trouxe a comprovação, mas também, um novo problema: “as impressões digitais foram consideradas divergentes”, contudo não era possível identificar quem efetivamente era João.
Além de passar mais de quatro meses preso no lugar de outra pessoa, cumprindo uma pena que não era sua, João não tinha documento ou registro no banco de dados de Mato Grosso do Sul.
A liberdade é também desafio: “Eu perguntei se o nome dele era Weslley e ele fez sinal que sim, possivelmente o nome dele é esse mesmo, mas Weslley do que, e aonde mora, aí já não sabemos”, afirmou o juiz. (Com informações do Campo Grande News)